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Artigos.

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Práticas de leitura e interdisciplinaridade: em busca de um caminho possível / Limerce Ferreira Lopes

A própria história é, em “essência, interdisciplinar”. E compreender os fatos é, antes de mais nada, contextualizar o passado historiado no presente (BAIRON, 2002). A história da cultura mostrou ao longo do tempo, que o mundo cultural é uma colcha de retalhos tecida por diferentes linguagens e, conseqüentemente, diferentes áreas do conhecimento. No âmbito da educação não tem sido diferente. As discussões propostas pelos PCNs, ao inserir os Temas Transversais nos conteúdos ensinados pelos professores das diferentes disciplinas, a fim de promover uma educação para a cidadania, abriram caminhos para que a interdisciplinaridade também se configurasse como uma prática a ser realizada em sala de aula. Estas inovações tendem a questionar as aprendizagens monolíticas, positivistas e fragmentadas que configuram o quadro educacional construído ao longo do tempo.

 
Práticas Discursivas e Escola: Um Olhar focado na Leitura / Limerce Ferreira Lopes

RESUMO: Este artigo apresentará parte dos resultados de uma pesquisa de mestrado em que será discutido que significado tem a leitura na escola, a partir da análise dos discursos e práticas de leitura realizadas pelos professores. Para a análise, serão considerados um recorte  dos discursos produzidos pelos professores de todas as disciplinas, tendo em vista que a leitura é ponto de tangência entre os campos de conhecimento e, por isso, todos os professores devem assumir a responsabilidade em formar leitores. A análise estará centrada numa sala de quinta série do ensino fundamental, devido à importância dessa etapa na formação do leitor. O referencial teórico selecionou estudos pertinentes ao ensino da leitura, que vai desde a aquisição, até a formação do leitor. Assim, tendo em vista as teorias consideradas, analisamos na dispersão das vozes, quais formações discursivas estão presentes nos discursos e práticas do professor, sobre a concepção de leitura.
PALAVRAS-CHAVES: Análise do Discurso. Práticas discursivas. Leitura.

 
O QUE É CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO / Jorge Schemes

O desenvolvimento do conceito de cultura é importante para a compreensão do paradoxo da enorme diversidade cultural da espécie humana. O dilema da espécie está entre sua unidade biológica e sua diversidade cultural.

“A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados”. (Confúcio, séc. IV a.C.)

Monogegismo: Doutrina antropológica segundo a qual todas as raças humanas procedem de um tipo primitivo único.

M Montaigne (1533-1572) - “ Na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra”

 
O OLHAR DA SOCIEDADE PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL / Gilberto Barros Lima

A sociedade tem obtido uma crescente compreensão da Responsabilidade Social (RS) para desencadear uma série de mudanças, para desempenhar uma forte participação na vida das organizações, para desfrutar alguns direitos juntamente com as empresas e de maneira notável se fazer presente na sustentabilidade mundial. Em linhas gerais, a RS está em franca ascensão, conquistando espaço significativo na sobrevivência da humanidade. Na condução destas profundas alterações no contexto social e empresarial, um artigo de Fátima Cardoso do Instituto Akatu (2010) tem como título que “É chique ser sustentável”, a autora define que “os valores dos consumidores estão mudando em todo o mundo”, este ponto de vista é que nos chama a atenção para um olhar social de quanto às coisas alteram rapidamente no âmbito da RS.

 
PORTUNHOL: INTERLÍNGUA OU IDIOMA INACEITÁVEL? / Gilberto Barros Lima

As constantes transições oriundas da globalização modificaram diversos aspectos culturais da sociedade mundial, freqüentemente tais efeitos implicam na agregação de elementos para o conhecimento de novos costumes e na propagação das peculariedades regionais como fatores de integração regional. Na somatória dos aspectos apresentados, é fundamentalmente relevante para estabelecer a conexidade entre os países, o emprego de um outro idioma.

 
REDES SOCIAIS: Mais que uma Essencialidade Competitiva / Gilberto Barros Lima

Preliminarmente, de maneira notável o futuro parece chegar cada vez mais rápido e comumente experimentamos novidades provenientes do conhecimento científico. Como se tem verificado, as mudanças predominam neste novo século 21 e gradualmente cabe potencializar a era da informática como um dos maiores eventos da Ciência. De forma exorbitante, a tecnologia se faz presente em todos os setores da sociedade, o efeito imediato dessa diversificação de acontecimentos é que vivenciamos uma invenção sem qualquer espanto e a geração denominada de “Y” é a detentora de uma gama de novas atividades e conceitos ainda não aprovadamente absorvidos pelas demais gerações anteriores.

 
SEU NOME É SUA MARCA! / Prof. Douglas Zela

Dizer que Marketing é coisa exclusiva de empresas, que é antiético ou aético, ou ainda, que não se deve utilizá-lo para profissionais liberais sobre o risco de desgastar ou comprometer sua imagem é uma das maiores falácias do mundo dos negócios, do meio acadêmico e da sociedade de uma forma geral. Aqueles que afirmam isso, não sabem do que estão falando, ou imaginam que Marketing seja uma coisa que ele não é. Partindo da premissa que Marketing é a ciência que procura compreender: os anseios, desejos e necessidades das pessoas para oferecer a elas aquilo que elas querem, sua amplitude inclui as atividades profissionais das pessoas. 

 
Educação: Ainda um sonho / Adriana Francisca de Medeiros

A discussão sobre o acesso a escolaridade, vem de longa data, no mundo inteiro leis têm sido criadas a fim de garantir esse direito. O artigo 3 da Declaração Mundial sobre educação para todos , esclarece: A educação básica deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos. Para tanto é necessário universalizá-la e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades.

No Brasil a Constituição (1988) em seu artigo 205 garante: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A lei de nosso país  assegura que a escola deve ser democrática , isto é , ela deve estar aberta a todos, mas na realidade, isto está longe de ser efetivado.  Há tempo o saber escolar é privilégio da minoria.

Nesse longo processo percebeu-se algumas mudanças, como o acesso e obrigatoriedade da matrícula das crianças a partir de 7 anos. Porém, a igualdade de chances para todos, esteve longe de se realizar.

 
Ainda avaliar? / Adriana Francisca de Medeiros

O advento do pós – modernismo não deixou para trás um dos principais  desafios no campo da educação- a avaliação . Muito se tem debatido, mas, esta continua sendo considerada por muitos estudiosos a pedra angular da prática pedagógica.

Durante muito tempo a avaliação foi vista como um instrumento que servia para medir os conhecimentos dos alunos e para averiguar se os objetivos dos professores tinham sido alcançados em relação ao aluno, em outras palavras, se o que professor ensinou foi aprendido pelos alunos.

Para muitos, esta forma de avaliação serviu/serve para seletar um grupo privilegiado, o da classe dominante. Segundo Castanho (2000)  A avaliação é vista como a ferramenta de que se vale a classe dominante para garantir a prioridade a seus filhos nas vagas existentes no sistema de ensino(...) (p. 160). Dados mostram que na década de 40,  em média 50% de nossas crianças matriculadas no 1º ano do Ensino Fundamental eram reprovadas. Esse quadro só foi atenuado com a implantação da organização do ensino em ciclo a partir da década de 90, que promove o aluno nos primeiros ciclos de aprendizagem.

No entanto, o ponto crucial do dilema - a avaliação continua existindo. Atualmente promovemos os alunos, na maioria das vezes sem os mesmos conseguirem atingir  competências mínimas para o ano posterior.  Hoje mais do que nunca, a avaliação nos suscita em nós educadores  inúmeras questões e provocações sobre a forma correta de avaliar o aluno. Se é que ela exista.

 
Algumas Considerações a Respeito da Aprendizagem da Leitura e da Escrita / Adriana Francisca de Medeiros

A leitura e a escrita, como tantas outras criações humanas, são uma invenção social. Na visão de Tfouni (2004,p.10):

A escrita é o produto cultural por excelência. É de fato, o resultado tão exemplar da atividade humana sobre o mundo, que o livro, subproduto mais acabado da escrita, é tomado como uma metáfora do corpo humano: fala-se nas “orelhas” do livro;  na sua página de “rosto”; nas notas de roda “pé”, e o capítulo nada mais é do que a “cabeça” em latim.

Como sabemos, a escrita foi criada há milhões de anos por pessoas que sentiram a necessidade de registrar nas paredes das cavernas as impressões de seu mundo.
O processo de difusão e adoção dos sistemas escritos pelas sociedades antigas, no entanto, foi lento e sujeito, é obvio, a fatores político-econômicos. O mesmo se pode dizer sobre os tipos de códigos escritos criados pelo homem : pictográficos, ideográficos ou fonéticos , todos eles, quer simbolizem diretamente os referentes concretos , quer “representem” o “ pensamento”(ou idéias), ou ainda  os sons da fala, não são produtos neutros; são antes resultado das relações de poder e dominação que existem em toda sociedade.(TFOUNI,2004,p.11)

A princípio, os desenhos representavam algo para quem os fazia, mas não eram por si uma escrita,  porque não existia uma convenção dos símbolos escritos, e dessa forma não poderiam ser compreendidos, ou seja, lidos. A partir do momento que se procurou entender e interpretar essas inscrições nasceu a leitura. Desde o período da pré-história até os dias atuais os processos de leitura e da escrita evoluíram muito.

 
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A PRODUÇÃO DE TEXTOS / Patrícia Ferreira Bianchini Borges

 ‘’Aprende a escrever bem ou a não escrever de jeito nenhum.’’ (Deyden)
 
‘’Para escrever bem deve haver uma facilidade natural e uma facilidade adquirida.’’ (Joubert)

 ‘’Quem me dera saber escrever!’’ (Campoamor)
 
‘’O ato de escrever é a arte de sentar-se numa cadeira.’’ (Sinclair Lewis)

 ‘’Escrever é um ócio trabalhoso.’’ (Goethe)

 ‘’O pensamento voa e as palavras andam a pé. Aí está o drama de quem escreve.’’ (Julien Green)

 ‘’A cesta de papéis é o primeiro móvel na casa de um escritor.’’ (Ernest Hemingway)
 
‘’Ainda que seja um intelectual das letras, não deveis supor que eu não tenha tentado ganhar a vida honradamente.’’ (George Bernard Shaw)
 
‘’O que se lê sem esforço foi escrito com muitas dificuldades.’’ (Enrique J. Poncela).

 
A LEITURA E A CONSTRUÇÃO DO LEITOR EM POTENCIAL por Patrícia Ferreira Bianchini Borges

A leitura é um dos grandes, senão o maior, elemento da civilização. De acordo com Bakthin, o ato de ler é um processo abrangente e complexo de compreensão e intelecção do mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: a sua capacidade simbólica de interagir com o outro pela manifestação da palavra. (BRANDÃO:1997).

Com base na declaração de Bakthin, pode-se afirmar que ler não é unicamente decodificar os símbolos gráficos, é também interpretar o mundo em que vivemos. É, ao mesmo tempo, uma atividade ampla e livre, embora não seja uma prática neutra, pois no contato de um leitor com um texto estão envolvidas questões culturais, políticas, históricas e sociais presentes nas várias formas de tradição. Deste modo, quando lemos, associamos as informações lidas à grande bagagem de conhecimentos que temos armazenada em nosso cérebro e, naturalmente, somos capazes de interpretar, criar, imaginar e sonhar.

 
 
A origem da palavra

Diário Catarinense - 08.12.2009 - Jacqueline Iensen - Em Sagração do Alfabeto, livro que Leonor Scliar-Cabral lança hoje em Florianópolis, a autora presta um tributo a um dos maiores feitos do homem na construção do saber: a invenção do alfabeto. Por meio de 22 sonetos traduzidos para o espanhol (Walter C. Costa), francês (Marie-Hélène C. Torres), inglês (Alex Levitin) e hebraico (Naama Siverman Forner), a doutora em linguística pela Universidade de São Paulo retoma o elo perdido entre os hieróglifos e o alfabeto fenício, assinalando dois desenvolvimentos exponenciais: por um lado o momento em que a um segmento, ou som, é fixado a um desenho para representá-lo.

 
A poesia nos ombros de Samuel Penido por Izacyl Guimarães Ferreira

Tem mais de um século a poesia urbana como temática plenamente estabelecida. Vem dos europeus do século XIX e Baudelaire é o nome que mais a caracterizaria. Há inúmeros outros desde então, cabendo lembrar Whitman, Alvaro de Campos, Mário, Drummond como os que de modo mais próximo a nós puseram a cidade no mapa da poesia.

Porque o mundo tornou-se urbano, sua percepção pela poesia deixou o campo e as serras e entrou na cidade, que se fez metrópole e megalópolis. Na veloz transformação, a realidade de novas formas de vida e trabalho, produção e convivência, a poesia necessariamente transformou-se, simultaneamente quando não antecipadamente articulando o choque de uma ininterrupta mutação.

 
A Prosa à luz da poesia em Carlos Drummond de Andrade por Regina Souza Vieira

Publicado por ocasião do centenário do autor e inserido nas manifestações comemorativas da data, procura mostrar a versatilidade lingüística do poeta, que se tornou também  ensaísta, cronista e contista.

Mesmo empregando uma linguagem predominantemente poética, surgiu o autor engajado com as  mudanças do seu dia-a-dia, querendo perenizar em sua obra os acontecimentos políticos, sociais e literários de seu tempo e encontrando na obra ensaística o espaço propício para que se estabeleça Este contato com autores de todos os tempos, esta intimidade que (...) entre passado e presente, desdobrável num conhecimento que (...) se torna profícuo para nosso tempo (VIEIRA, Regina Souza: 1992: pág.19).

 
ADOÇÃO por Eliane Pisani Leite

Para falarmos sobre adoção precisamos entender o que isso significa em termos legais em nosso país. O Estado entende que o núcleo básico que sustenta uma sociedade organizada, equilibrada deve estar fundamentada em pequenos grupos que constituem as famílias.

Essa interpretação provém da necessidade de amparo e proteção aos menores que sem sombra de dúvidas necessitam de cuidados desde o nascimento. Para compreendermos um pouco melhor o sistema de adoção vejamos sua definição: Adoção ou adopção, no Direito Civil, é o ato jurídico no qual um indivíduo é permanentemente assumido como filho por uma pessoa ou por um casal que não são os pais biológicos do adotado.

 
ALCAPARRAS, o que são ALCAPARRAS? / Sergio Petta

A curiosidade, que mata e também salva, me levou à internet para saber o que seriam alcaparras. Uma semente? Um fruto?  Vamos ao GOOGLE digitar o nome do condimento. ALCAPARRAS!  E depois é somente clicar em IR. Que facilidade. Quando eu estava no colégio isso não existia, pudera já lá vão quase sessenta anos! A gente procurava no velho Caldas Aulete, que respondia tudo. Ainda é o melhor. Estudávamos no Instituto de Educação Fernão Dias Paes, no bairro de Pinheiros, São Paulo. Era outra época quando ainda se vendiam batatas no Largo do mesmo nome, hoje esquecido e completamente desfigurado.

Em todo aquele espaço ao redor da Escola existiam sobradinhos, às vezes geminados, e também alguns pequenos prédios assobradados que ainda lá estão perseverando em guardar a lembrança querida de tempos que não voltarão mais. Alguns professores moravam nas proximidades, outros não. O de matemática, se a memória não falha, se chamava Epinghaus. Havia uma professora, penso que de origem nórdica de nome Taguea, que dava aulas de história natural.  Sua sala de aula era um verdadeiro laboratório onde nos sentíamos estar em uma universidade americana (do norte). Foi ali que aprendemos a examinar ao microscópio uma folha da tradescância e entender a classificação de Lineu. Todos os alunos do ginásio e do cientifico (e também do clássico) formavam fila antes de entrar para as aulas. Nessa hora cantávamos o Hino Nacional. Eram 40 alunos na sala, dos quais 32 descendentes de japoneses.

 
CAMINHOS DA LIBERDADE: ANÍSIO TEIXEIRA Por Antonio Carlos Lopes

Através da imensidão do infinito, o olhar, o despontar da noite, o brilho das estrelas, à luz da esperança, com este pequeno início de verso poético, faz emergir em meus pensamentos, as lembranças de um homem, que dedicou-se à  liberdade, cuja trajetória fora construída com bases sólidas no sonho de um país mais justo.

Em 12 julho de 1900, nasceu  Anísio Spinola Teixeira, na cidade de Caetité, no sertão da Bahia, um dos maiores educadores brasileiros, formou-se em Direito na cidade do Rio de Janeiro em 1922, assumiu ao longo de sua vida vários cargos na administração pública. Estudou nos Estados Unidos no Teachers College da Universidade de Columbia, Nova York, na qual recebera o Título de Master of Arts, mantivera estreita amizade com John Dewey familiarizando-se com  o pensamento e os métodos pedagógicos deste grande pensador.

Anísio Teixeira tinha como essência, o pioneirismo no processo educacional, suas ações estiveram projetadas através de medidas de vanguarda diante de um sistema que estabelecia barreiras elitistas e privilegiava uma metodologia educacional arcaica.

 
Carlos Drummond de Andrade por Regina Souza Vieira

Recentemente, certo cronista do Jornal O Globo manifestando sua opinião, declarou que “uma boa definição de literatura é a seguinte: aquilo que fica”.  E ao que parece nenhuma literatura, nenhuma poesia, nenhum autor tem sido mais lembrado ou mais referido do que Carlos Drummond de Andrade

E ao se fazer tal afirmação, busca-se considerar que o poeta e escritor faleceu em 1987 e, no entanto, até os nossos dias, na maioria de crônicas ou de publicações hodiernas, surge uma referência, uma alusão, uma intertextualidade buscada no autor mineiro. Ele mesmo não atentava para o poder de sua obra, ele mesmo descria dessa resistência à força de suas palavras, podendo-se admitir que tanto quanto Platão que expulsou os poetas da República,ele se expulsou rapidamente da lembrança de seu povo. 

 
CHICO BENTO: das histórias em quadrinhos para a vida - por Sandra Regina Nóia Mina

Através de uma linguagem interativa e feita para todas as idades, os gibis do Chico Bento retratam a história do inocente menino do campo, que fala errado (de acordo com a Gramática Normativa), tem amigos na roça em que vive, para uma melhor caracterização do personagem (espaço/campo), e um primo para caracterizar as diferenças entre campo/cidade.

Chico Bento, morador de Vila Abobrinha, é um personagem fictício, construído a partir da biografia de Mauricio de Sousa, que o espelhou em um tio-avô. Não somente Chico, mas sua Vó (Vó Dita) também faz parte dessa biografia do autor, uma vez que essa lhe contava várias histórias que por ele foram publicadas. 

Contos Negreiros do Marcelino Freire - Por Silas Corrêa Leite

Palavras que falam e não agem de acordo com o que dizem, são cheques sem fundo...
Marisa Raja Gabaglia.

-Marcelino Freire pega um estilete cego e enferrujado, e vai desossando o conto-narrativa feito um açougueiro de almas. Santo Deus! Fica só o sangue, o lodo, o visceral, ai de nós!

-E até atiça o fogo-fáctuo-brasil na fuça da gente. Dói como uma parede. Passa, moleque, quem quer canibalismo do palavrear duras realidades?

-Ao ler alguns contos, confesso que chorei como se atravessado por um gume narrativo seco, hepatite c que fosse ali no cromo náutico da lacrima. Contos-quase-cantos. Contracontos. Banzos proseados a golpes de palavras. Farinha em caótico angu de caroço, cacos de vidros em farinhas de ausências. Ei-los quase pretos, quase brancos, quase seres, do Haiti que Caetano cantou. Marcelino Freire sabe essa dor salteada, no machado da história injusta, dívidas impagas desde uma libertação que não indenizou e nem puniu escravocratas.

 
Educação Bandida: do conto à realidade - por Marcos Henrique Meireles Lima

Resumo: Utilizando uma linguagem simples, este texto tem como objetivo, chamar a atenção para fatos que podem até terem sido transformados em corriqueiros, no dia-a-dia das grandes capitais, mas que podem abalar a realidade de uma pequena cidade. Através de um conto, tenta dramatizar uma realidade violenta que cresce a cada dia em todo país, chegando a atingir universos outrora pacatos. Palavras-chave: educação, violência, escola, família.

São 23:35h, as ruas estão vazias, os cachorros reviram os lixos em uma disputa acirrada com gatos e ratos, o bairro tem o nome de São Felix, a cidade era Valença, na Bahia, dois jovens de aproximadamente 16 anos conversam em um tom muito baixo, como sem qualquer explicação, eles sacam e empunham duas armas se dirigindo ao único estabelecimento que ainda relutava em funcionar, um barzinho, a conhecida “birosca”, ao entrarem, o aparentemente mais velho, dá a “voz” de assalto:

- Todos com as mãos para cima, não olhem para mim, passem toda grana e você que está atrás do balcão, esvazia o caixa, vamos, rápido com isso... Mas esperem um pouco, essa história não começa assim.

 
Esquecidos e renascidos no Brasil colonial - Por Adelto Gonçalves

Antes mesmo de o Brasil se tornar nação independente, eruditos reuniram-se na cidade de Salvador, na Bahia, para fundar a Academia Brasílica dos Esquecidos, em 1724, e a Academia Brasílica dos Renascidos, em 1759, com a objetivo de escrever a história da América portuguesa. A criação dessas academias permitiu que a atividade historiográfica ganhasse foros de ação coletiva, já que, até então, ficara restrita a iniciativas isoladas de colonos, missionários, viajantes, militares e administradores.

O livro Esquecidos e Renascidos: Historiografia Acadêmica Luso-Americana (1724-1759), de Iris Kantor, mestre e doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do Departamento de História dessa instituição, recupera, com objetividade de escrita e profundidade de pequisa em arquivos do Brasil e de Portugal, essas duas iniciativas coletivas que constituem a gênese da pré-história da historiografia brasileira. 

 
Iacyr Anderson ou a cristalização do poeta - Por Adelto Gonçalves

A Coleção Pasárgada, da Ardósia Associação Cultural, de Cascais, acaba de ganhar o seu segundo livro, o primeiro em Portugal do poeta e contista brasileiro Iacyr Anderson Freitas, Terra Além Mar, antologia que abrange trabalhos de 16 obras e outros poemas ainda inéditos.

Segundo o diretor da Coleção Pasárgada, o também poeta Ozias Filho, responsável pela seleção dos poemas da antologia, Terra Além Mar é um vôo maior, sem escalas, para algo inatingível, etéreo e que ganha uma vida física.

Até agora, em Portugal, os poemas de Iacyr Anderson Freitas haviam sido publicados em periódicos literários e em livros coletivos, tais como Reflexos da poesia contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal, editado em 2000 pela Universitária Editora, e ainda Quanta terra!!! —Poesia e prosa brasileira contemporânea, organizado pelo poeta português Amadeu Baptista e publicado pela Casa da Cerca-Centro de Arte Contemporânea, em 2001.

 
NOTA SOBRE A AUSÊNCIA DA CRÍTICA / João Scortecci

Há livros que talvez assustem a crítica, talvez pela riqueza do texto, talvez pelo volume das matérias. É o que parece estar acontecendo com a generosa "Antologia Poética" do premiado poeta Izacyl Guimarães Ferreira. Cerca de 140 poemas, quase 300 páginas. E vem até mesmo de antes o silêncio em torno de sua obra. Só ao receber o prêmio de poesia da ABL em 2008  é que obteve o poeta alguma imprensa. E já tinha 16 livros publicados!

Lançada em dezembro, sobre a Antologia só li matéria da própria editora, a Topbooks, em seu site, transcrevendo as abas do livro, texto de Ivan Junqueira. Texto magnífico, tal como o prefácio escrito por Alberto da Costa e Silva.

Creio que a excelência destes dois textos terá talvez inibido outros leitores críticos. Afinal os dois acadêmicos, pois são ambos ilustres membros da ABL, abordaram aspectos tão essenciais da obra que é difícil pensar noutros ângulos. Mas há alguns mais e creio caber à crítica, e não aos dois citados apresentadores tratar deles com mais detença.

 
O Artesanato de Enfados do Poeta Antonio Mariano - Por Silas Corrêa Leite

A poesia de Antonio Mariano mostra o criador torneando seus incontáveis sentidos no artesanato de seus líricos enfados que são pretéritos, dispersos, desorientações e desjardins. Tenho o feeling das pedras/Ao sabor do mar belamente canta Antonio Mariano, cabendo a ele sim, poeta de rara beleza, mostrar cada poema - a novidade - de estar vivo e respirar pela lâmina goiva de sua sensibilidade. O tear de sua solidão-cangalha, de sua solidão-albatroz?

A faca cega que acorda a palavra? A faca cega que orna dialéticas de próprio punho-prumo-(prisma). Nota-se a sua construção de águas, tocando o intocável, remando - a palo seco - contra uma noite indizível, um de-quê de si trazido à tona, quase navegações - alma nau? - vertentes, vertentos, aquários, chuvas que não se guardam num guarda-chuvas, portanto, o escrever é não esquecer, antes recontemplar-se. Lembrar dói? Existir dói. Aliás, Existir a que será que se destina? Caetano Veloso dava sua pinceladas.

 
O ATO DE LER – Por Inajá Martins de Almeida

Dê-me uma meada de lã e eu teço um agasalho.
Dê-me uma palavra e eu formulo uma frase.
Dê-me uma frase e eu escrevo um texto.
Dê-me um texto e eu componho um livro”. (1)

Definições, conceitos, significações, frases, textos, livros, são atributos de que nos valemos, quando nos predispomos a fazer uma pesquisa mais acurada de algo que queremos conhecer melhor.

Definimos, conceituamos, buscamos significados, formulamos frases, elaboramos textos, compomos livros, tudo para perpetuar nossa idéia e percebemos que:

"Os livros que em nossa vida entraram, são como a radiação de um corpo negro, apontando pra expansão do Universo, porque a frase, o conceito, o enredo, o verso (e, sem dúvida, sobretudo o verso) é o que pode lançar mundos no mundo". (4)

 
O BRASILEIRO E O LIVRO / Marcelino Rodriguez

Dentre tantas as constatações que já fiz sobre a deficiência da educação no Brasil, a mais dramática é que o brasileiro não tem noção alguma da essência do livro. Ele sabe apenas que o livro é um objeto. Ele não vê o livro como uma parte do espírito da vida, e uma das mais importantes, sem dúvida.

O homem sem conhecimento e sem uma mínima cultura sabe pouco, ´pensa pouco, produz pouco e desperdiça muito. O livro na verdade é a escova de dente do espírito, se me permitem a metáfora inusitada. Como escritor, evidente que essa ignorância consentida e essa indiferença em relação ao livro, dói mais. Pude sentir na pele o desconhecimento da importância do livro por parte da população.

 
O CHICO BUARQUE DE BUDAPESTE - Por Urariano Mota

A notícia esteve em todos os jornais nesta última semana de agosto. Concorrendo com mais de 230 livros, o romance Budapeste, de Chico Buarque, recebeu o prêmio de melhor romance em língua portuguesa, ao fim da 11ª Jornada Nacional de Literatura.

Pelo valor em dinheiro, de 100 mil reais, e pelo nível da concorrência, que reunia nomes como José Saramago, Salim Miguel, José Nêumanne e Antonio Torres, o prêmio é de vulto.
Não foi o primeiro, nem certamente será o último.

Já em 2004, Budapeste havia conseguido o Prêmio Jabuti de Livro de Ficção do ano. No exterior, a sua corrida também não é menor. Boas críticas na França, na Itália, e na Inglaterra esteve entre os seis finalistas de melhor ficção estrangeira.

 
O Educador e a Literatura - Por Fernanda Baroni

O pior crime que um educador pode cometer é desprezar a inteligência de seus alunos. Deixar de propor atividades desafiadoras por achar que a turma não tem interesse é o mesmo que desistir do magistério.

Uma forma prazerosa  e estimulante de trabalhar o lado cognitivo e a criatividade é através da Literatura. Um texto criativo provoca reflexões, ajuda a criança a romper com os estereótipos do dia-a-dia.

Alguns educadores podem argumentar que, mesmo conscientes do papel importante da Literatura, mesmo tendo apresentado livros, exigido que fossem lidos, discutidos e trabalhados em sala de aula, depois de uma certa idade, são os próprios estudantes que demonstram desinteresse pela leitura.

 
O ensino da língua materna: conflitos e sugestões - por Marcos Henrique Meireles Lima

Desde a colonização, a imposição de uma língua e a forma da sua verbalização e posterior escrita, tem sido uma cruel realidade em nossa sociedade e conseqüentemente, no ensino em nossas escolas. Muito se tem estudado sobre este assunto e é louvável a busca por uma superação dessa realidade, principalmente, pelos os quais chamarei de “translingüistas”.

São estudiosos da linguagem que, insistentemente, estudam, pesquisam, discutem e escrevem sobre paradigmas, variações e preconceitos lingüísticos, e outras discussões que dizem respeito ao universo da fala e da escrita, buscando transgredir a formalização imposta, bem como, os ditames gramaticais normativos, superando para uma visão ampliada, em detrimento de uma visão focada sobre o estudo da linguagem. Posso citar: Marcos Bagno e Magda Soares, os quais pude ter um contato recente, através de alguns de seus escritos.

 
 
O LIVRO COMO MERCADORIA - Por Patrícia Ferreira Bianchini Borges

No mercado, o livro participa de uma cadeia bastante diversificada de produtos chamados culturais e, de um tempo para cá, parece ter desistido de competir com os meios eletrônicos e com as linguagens não-verbais, para com eles fazer todo tipo de aliança: temos o livro musical, o livro-jogo, o livro de imagens, o livro brinquedo... disposto, na livraria ou no supermercado, ao lado de fitas de vídeo, de chocolate, de sorvete, etc.

Não há como negar que no grande mercado que está do lado de fora da escola tem havido um conjunto de iniciativas voltadas à educação de um leitor já habituado ao cinema e à televisão. Nessa busca, a estratégia parece ser a da aliança.  

E aos poucos, parece que certo segmento da sociedade, com poder aquisitivo, escolarizado, que já é, por exemplo, leitor de jornais e revistas, está se colocando não só perante a discussão em torno do livro, mas também está participando de forma mais intensa desse mercado. Nos dias de hoje, indo à videolocadora pode-se ganhar este ou aquele livro na locação de "x" fitas.

 
O LIVRO NO BRASIL por Rafael R. dos Santos

Venho lendo as notícias sobre o livro e muitas são as matérias que chamam a atenção para a falta de leitura do brasileiro. Como leitor ávido que sou, devo expressar meus sentimentos em relação à política que é adotada em relação aos livros no Brasil.

Para começar, deve-se falar do livro em si. A verdade sobre o livro, e principalmente seu preço, deve ser dita rudemente: o preço do livro é alto demais! Como um país espera crescer se, em alguns casos, um livro chega a 33% do salário de um único cidadão, que não irá trocar a comida de casa por livros, muito sabiamente.

Vê-se as editoras do Brasil lançando livros que custam em média R$60,00: é uma total inedequação à realidade brasileira (falta de atenção por parte dos "intelectuais" por detrás das editoras ou "cegueira branca"? Difícil distingüir, porém há sempre o dito popular: "pior é o cego que não quer ver"..). Peguemos alguns exemplos: um livro de autores como Thomas Mann, um símbolo do século XX, chega a custar mais de R$80,00; um livro mais "popular", como o "Senhor dos Anéis" custa cerca de R$75,00 a edição completa; uma lista interminável de exemplos poderia seguir, porém seria incoveniente ao conteúdo do email.

 
O MARQUÊS SEM NOBREZA - Por Tarcísio José da Silva

Um dos mais atraentes personagens de Monteiro Lobato é, com toda a certeza, o Marquês de Rabicó do Sítio do Pica-pau Amarelo. Lobato foi um criador de tipos inesquecíveis: Emília, Jeca-tatu, Dona Benta, Narizinho, etc. Exímio caricaturista criticava ou satirizava através das personalidades de seus livros.

Usando como canal a boneca de pano mais irreverente do planeta, ele deu vazão às suas idéias e aos seus planos mais ousados. Há um personagem que pode ser colocado como destaque entre as suas criações: é o porco marquês.

Esse leitão, detentor de um dos mais altos títulos nobiliárquicos, foi uma das primeiras figuras criadas pelo autor para a sua obra infantil; teve um livro dedicado a si com o título: “O Marquês de Rabicó”, publicado no ano de 1922, o qual, posteriormente, incorporou-se à coletânea “Reinações de Narizinho”.

 
O Papel Ampliado do Professor na Sociedade Digital - por Marcos Henrique Meireles Lima

O professor como conhecemos está com os seus dias contados? Será o fim da profissão docente?

Por muito tempo o professor foi reconhecido como o datore de aula, aquele que transmitia o conhecimento aceito pela comunidade científica e validado pela sociedade de um modo em geral, porém, essa postura tradicional, unilateral, individualizada, tende a ser ultrapassada por um profissional reflexivo, interagente, coletivo.

As informações são disseminadas em uma velocidade nunca vista, o acesso aos conhecimentos formulados é facilitado pela efervescência da utilização de uma grande rede de computadores interligados por todo mundo, propiciando com que a história antes marcada pelas “metamorfoses” seculares, seja transformada em milésimos de segundos.

 
Os Fotogramas Poéticos do Luiz Edmundo Alves - Por Silas Corrêa Leite

O poeta bahiano contemporâneo, Luiz Edmundo Alves, psicólogo radicado em Belo Horizonte, Minas Gerais, em seu novo livro, Fotogramas de Agosto, literalmente revela (...) os fotogramas (objetos literários transparentes) poéticos de recente belíssima safralavra. Muita coisa que interessa/Se configura no inesgotável, poetiza mui belamente ele.

E desconfia, remonta, estilinga, reconta. Uma saudade-sombra aflora ranhuras de si mesmo (que desvela), abismando-se, suspenso às vezes numa espécie de close-captação de sua cítrica sensibilidade ferida, talvez decantação para uma lírica mordaz.

Para ele é fácil revelar silêncio. A poesia é sépia? Apresenta-se bandalheiro como o poeta que precisa do medo de morrer.

 
OS MANDARINS - Simone de Beauvoir / Por Antonio Carlos Lopes

Diante da estante de livros que pela desordem, seria insensatez chamá-la biblioteca, um livro já lido há alguns anos, me chamou novamente a atenção, naquele momento senti uma certa  nostalgia, o que é muito comum, quando estamos a sós com nossas abstrações.

A obra, Os Mandarins da filósofa e escritora  francesa Simone de Beauvoir, uma publicação de 1954, valeu-lhe o Prêmio Goncourt.

Essa obra tem como  temática a posição dos intelectuais de esquerda no pós-guerra,como alvo também o rompimento do filósofo e escritor Jean-Paul Sartre (O ser e o nada, 1943), com o filósofo e escritor e jornalista Albert Camus (O estrangeiro,1942)  o estremecimento na relação destes expoentes da literatura mundial,  que  a autora estabelecera como intenção em sua narrativa intrínseca.

 
Paixão Por São Paulo - Uma Antologia Que Pode Dizer o Nome? -Por Silas Corrêa Leite

Sou sempre a favor de antologias por atacado, quaisquer que sejam, porque você, gostando ou não, de uma forma ou de outra, saca que são espécies de varais de produções daqui e dali, sempre aparecem ilustres nomes novos, qualidades raras, só não gosto mesmo - e isso às vezes acontece, infelizmente - daquelas antologias de suspeitos amigos do alheio lítero-cultural (querendo aparecer sem ser), guetos, panelinhas, que acabam mesmo, perdoem o trocadilho, espécies assim de antro-logias. Vai por aí.

-Pois é com esse espírito que recebo cada antologia, como bem recebi o livro Paixão Por São Paulo, antologia editada pela novíssima e competente Editora Terceiro Nome, sob a égide organizacional de Luiz Roberto Guedes. Currículo ele tem. Só isso basta?. Vão sacando. A obra, diga-se de passagem, muito bem editada, é realmente um primor de qualidade técnico-editorial. Um mimo mesmo tê-la em mãos. Babei.

 
PARA QUE SERVE A LITERATURA por Urariano Mota

Em um dia distante, as letras já foram chamadas de belas letras. E apesar de assim se chamarem, de belas, e para melhor belo belo, terem como objeto a beleza, nem assim defenderam à altura os seus cultivadores. O poeta Geraldino Brasil, que bem conhecia o trato, assim viu como são recebidas as belas letras na boa sociedade:

CLASSE MÉDIA

Um médico. / Ótimo na família.
Um executivo./ Ótimo.
Um engenheiro / Um arquiteto / Um magistrado. / Ótimo.
Um poeta. / Melhor na família dos outros.”

 
PARA RESPIRAR SARAMAGO / Mantovanni Colares

A concretização da proximidade literária de Saramago custou-me um lapso temporal expressivo. De início, tentei a leitura de "Ensaio sobre a cegueira", abandonando-o em seguida por me sentir sufocado pelo texto retilíneo, sem parágrafos, tabulações ou indicações de pausa. Não insisti, pois de cedo aprendera que a literatura só funciona naquele momento mágico em que o leitor se sente atraído pela obra, hipnotizado a tal ponto de não conseguir se desvencilhar do livro. Por isso, há o tempo certo para cada autor, para cada obra.

Pequena Resenha Crítica: A "Cisterna Poética" do Escritor Donizete Galvão

A poesia no reino da web destila veículos vernaculares, valora letramentos de idéias, às vezes segue pífios cursos sazonais, certamente dita curtumes e feudos culturais também, mas, principalmente leva e traz o que é bom porque, naturalmente, o tempo é o melhor fermento e o melhor juiz.

Assim, quando entre tantas invasões protegidas e deletações imediatistas você conhece um bom poeta contemporâneo, você logo caça sabê-lo ainda mais completo e perene, prover-se bem do conteúdo lítero-cultural emergente, divulgá-lo por gosto de dividir guloseimas, haver-se dele no rol de uma típica amizade virtual, pelo menos de início, nessa global panacéia da internet muito além de movediças areias utópicas e pan-poéticas reais.

 
Pequena Resenha Crítica: Bellini e o Demônio de Tony Belloto - Por Silas Corrêa Leite

Tony Belloto deve ser mesmo uma excelente pessoa, também bom compositor e ótimo guitarrista, além de ter a posse feliz da musa televisiva de todos nós, a maravilhosa Malu Mader, sempre fina e impecável. E isso não é pouco.

Chico Buarque, aliás, um dos maiores artistas de MPB, aquele cara que, em tese todo homem brasileiro gostaria de ser, como escritor é apenas mais ou menos, para alguns críticos ferozes e acadêmicos de plantão simplesmente uma mera piada fora de contexto, apesar de muito midiático, claro, o que é facilmente explicável.

 
Por uma política cultural eficaz -por Samuel Pinheiro Guimarães

1. A sociedade brasileira se caracteriza por crônica vulnerabilidade externa com facetas econômica (a mais debatida), política, tecnológica, militar e ideológica. A mais importante, pois influencia todas as políticas e atitudes do Estado e da sociedade brasileira (empresas, associações, partidos, ongs, igrejas, indivíduos etc) que agravam aquelas outras facetas da vulnerabilidade é a de natureza ideológica. É ela que, através de diversos mecanismos, mantém e aprofunda a “consciência colonizada” das elites, dirigentes e até de segmentos das oposições políticas, intelectuais, econômicas, burocráticas.

A consciência colonizada se expressa em uma atitude mental timorata e subserviente, que alimenta sentimentos de impotência na população, ao atribuir as mazelas brasileiras à “escassez de poder” do Brasil, à “incompetência” brasileira, ao nosso “caipirismo”, ao “arcaísmo” social, à “xenofobia” etc. enfim, à nossa inferioridade como sociedade. A vulnerabilidade ideológica está estreitamente relacionada com a crescente hegemonia cultural americana na sociedade brasileira, que se exerce em especial através do produto audiovisual, veiculado pela televisão e pelo cinema, articulado com a imprensa, o disco e o rádio.

 
Quem Não Lê, Não Escreve / Marcia Luz

Nós brasileiros, não possuímos o hábito da leitura. Não vou entrar aqui no mérito da questão de porque não se lê, incluindo altos índices de analfabetismo, mas a questão é que entre os alfabetizados o prazer de ler parece não ser um traço presente em nossa cultura. Sou palestrante e instrutora e nas formações gerenciais que ministro, meus alunos tem a tarefa de casa que é ler um livro por mês e produzir um pequeno texto. No primeiro módulo é sempre a mesma choradeira de gente reclamando que não possui tempo para ler, o que sabemos ser uma falácia, pois a administração do tempo passa por estabelecer prioridades. Na verdade, o que está por tras do protesto de meus alunos é a falta do hábito da leitura, que via de regra é associada à obrigação e desprazer.

 
Romances de "Luiz Antonio de Assis Brasil" revelam os planos esquecidos da história - Por Maria Helena de Moura Arias

Ao tentar estabelecer diferenças entre a História e a Ficção, pode-se chegar a lugar nenhum ou a todos os lugares ao mesmo tempo. A todos os lugares possíveis e imagináveis e até aos mais remotos,  impossíveis e inimagináveis. Espaço movediço, é a condição geográfica desta literatura. 

Em vista disso, é interessante atentar ao que declara Geysa Silva: “Assim, tratando a História como Narrativa, o escritor contemporâneo realiza a desconstrução dos fatos e dramatiza as circunstâncias, para que se possa usufruir a instantânea experiência da vida” (SILVA, 2000, p. 181) . Servindo-se de parâmetros oficiais e, por uma questão de cientificidade reconhecida, a História ganha terreno no campo da credibilidade e aceitação, enquanto que o Romance deflagra  o espanto e a dúvida.

 
Seu Cão Merece! Você Merece! E Nós Também... - Por José Aloise Bahia

Existe algum cão em seu apartamento ou casa? No sítio? Conhece algum vira-lata perdido ou freqüentador assíduo do seu bairro? Se a resposta for não para as três perguntas, bom sinal, pois você é um candidato em potencial para ler o livro Como Mimar seu Cão (Editora Zouk, São Paulo, 2005), de autoria do jornalista paulistano Rodrigo Capella. A dica inicial: de preferência leve este simples e divertido compêndio - não confunda com auto-ajuda - para uma leitura ao ar livre.

Por exemplo, sentado num banquinho de uma praça ampla e arborizada da sua cidade, tendo como companhia alguns cachorrinhos que por lá passeiam com seus respectivos donos. Após as primeiras páginas e uma pitadinha de reflexão, uma coisa eu tenho certeza: a sua saúde e compreensão do mundo canino, por extensão o humano, aumentarão em graça, humor e cortesia. De repente, você pode até mudar de idéia. Num ato virtuoso e polido adotar um animal. Os médicos receitam. Dizem que faz bem para o coração. Por falar nisso, se tem uma virtude que andava meio sumida do mapa no mundo contemporâneo é a polidez.

 
Sobre Literatura, escola e aprendizados - Por Fernanda Baroni

Numa tarde de conversas sobre Literatura, ouvi Bartolomeu Campos Queirós se remeter a uma fala de Henriqueta Lisboa que diz que a Natureza é sábia, e se ela não fez um rio para crianças e outro para adultos, se não fez uma árvore para crianças e outra para adultos, então também a Literatura não precisa ser dividida em uma Literatura para crianças e outra para adultos.

Concordo com essa tese, se a leitura for feita com algumas ressalvas. A árvore que a criança e adulto sobem é a mesma, mas o que é bonito nisso tudo é perceber e valorizar que, a cada fase vivida, é possível subir um pouco mais alto. Um menino de três anos certamente precisará de ajuda para subir na árvore; com cinco, já conseguirá ir sozinho; aos sete, vai escalar galhos mais altos; até conseguir, por conta própria, chegar ao último galho e então procurar outra árvore que lhe ofereça novos desafios. Acredito que a Literatura se encaixa perfeitamente nessa metáfora. A criança de três anos precisa que um adulto leia histórias para ela, aos pouquinhos vai ela mesma criando histórias em seu imaginário ou reproduzindo aquelas que ouviu.

 
Universo Interior - por Henrique Montserrat Fernandez

Alguns físicos teorizam a existência de diversos universos paralelos semelhantes ao nosso. Não sei se isso é verdade ou apenas um devaneio. Entretanto, mesmo que existam, eles estão fora de nosso alcance. Porém, existem inúmeros universos coexistindo com o nosso neste exato instante,  todos bem perto de nós. Eles são bi-dimensionais e, em geral, lhes impera o branco e o negro.

Parecem ser aborrecidos e desinteressantes à primeira vista, bem diferentes deste nosso universo tridimensional, colorido, recheado de ação, de cheiros e sabores. Mas não nos enganemos! Estes universos bi-dimensionais que nos rodeiam, guardam surpresas incríveis e inimagináveis ! Quando mergulhamos neles, o branco e negro de sua trama parece adquirir vida e as mais diversas tonalidades lhe são percebidas.